Com incertezas sobre a distribuição de dividendos extraordinários, a Petrobras (PETR4) perdeu o seu favoritismo absoluto nas carteiras de dividendos. Embora o mercado não tenha desistido da petroleira, surgem no radar dos investidores outras alternativas para quem busca renda passiva com menos risco.
Levantamento de consenso de mercado feito pelo TradeMap para a coluna revela que de 14 casas de análise, bancos e corretoras, cinco instituições recomendavam a compra da Petrobras (PETR4), enquanto nove preferiram apenas manter a ação, com uma visão neutra. Apesar dos impasses, ninguém recomendou a venda do papel.
Mas será que existe uma substituta para Petrobras no setor de óleo e gás? Para ver a ação se valorizar na sua carteira, a escolha se torna mais simples com as junior oils (petroleiras menores) em amplo crescimento e consolidação. Já quando o assunto é dividendos, nem todas têm a possibilidade de remunerar os acionistas com dois dígitos, mas há algumas candidatas a boas pagadoras.
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O que esperar da Petrobras?
Apesar das incertezas com o comando da estatal, que tem provocado instabilidade para as ações, a Petrobras ainda deve pagar bons dividendos este ano. «Apenas com proventos regulares, é possível esperar um dividend yield de 12%», afirma Gustavo Poladian, sócio e analista de renda variável da Meraki Capital. Caso a petroleira decida distribuir metade do recurso alocado em reserva, Poladian projeta que o dividend yield (DY) da companhia alcance os 16%.
Mas a companhia é muito cíclica para fazer parte de uma carteira de dividendos. «Tem ainda o risco de ingerência, acho que para dividendos tem oportunidades melhores com riscos baixos», observa o sócio e analista de ações da Nord Research, Fabiano Vaz — a estimativa é de um DY de 10%.
Resultados podem ser piores no ano, o que reduz o fluxo de caixa livre. «Tem a questão da defasagem do petróleo, que vai ganhar destaque nos próximos meses, dependendo do desempenho da commodity que já vem pressionando os resultados da petroleira», destaca Vaz.
A petroleira deve iniciar um forte ciclo de investimentos até 2028 e, em consequência, deve sobrar menos caixa para distribuições. «Além do investimento na empresa (capex), há defasagem nos combustíveis de cerca de 19%, no diesel, petróleo e derivados o que reduz a margem operacional da companhia e o seu caixa», pontua Hugo Queiroz, sócio da L4 Capital. Ele projeta um retorno em dividendos na Petrobras entre 12% e 13% — embora em dois dígitos, o patamar está bem abaixo do registrado nos anos passados, quando superou os 20%.
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E que ação pode substituir a Petrobras?
Entre as junior oils, uma candidata a pagar dividendos elevados no curto e médio prazo é a Petrorecôncavo (RECV3), segundo os analistas consultados pela coluna. No começo do ano, a companhia tentou uma fusão com a 3R Petroleum (RRRP3) — que não foi para frente por conta de outra proposta de fusão da Enauta com a 3R.
A companhia trabalha com campos maduros onshore — exploração e produção em terra firme, seja em refinarias, terminais de petróleo e gás ou usinas. Segundo Poladian, a Petrorecôncavo produz atualmente cerca de 27 mil barris por dia. A Petrorecôncavo tem um histórico de mais de 20 anos operando campos onshore e ativos com baixa avaliação de risco.
É menos arriscada que rivais. O risco de a empresa não ter uma operação tão eficiente é menor na comparação com a média do setor. «É uma exposição interessante para investidores conservadores», pontua Luan Alves, analista chefe da VG Research. Ele cita que a companhia deve ter um crescimento de 12% ao ano nos próximos 3 anos. «Esperamos R$ 2 bilhões de lucro em 2025 e a perspectiva de se tornar uma forte geradora de caixa e aumento do yield está mantida», afirma.
A empresa tem um endividamento baixo e está sem grandes investimentos pendentes. Por isso, O analista da Meraki Capital acredita que a Petrorecôncavo teria espaço para pagar proventos no curto prazo — a projeção é de um DY entre 8% e 10% em 2024.
Olhando para o futuro, investidores acreditam que a empresa está centrada na geração de caixa, com produção mais estável por conta das operações onshore e um nível de capex (investimento na empresa) menor comparado aos seus pares. «Isso pode resultar em dividendos para os acionistas», destaca Poladian. Larissa Quaresma, analista da Empiricus Research, defende que embora a Petrorecôncavo seja uma alternativa para dividendos, os pagamentos não devem crescer de forma substancial ao longo dos anos. A projeção para 2024 é de um yield de 8,4%.
Outro que espera dividendos elevados da Petrorecôncavo é Alves, da VG Research. Ele calcula um dividend yield de 14% para os papéis RECV3, superior ao retorno em proventos da Petrobras — em que o analista projeta 12%.
Mas esse baixo endividamento pode significar um crescimento menor. «A Petrorecôncavo não tem uma perspectiva de crescimento da sua produção, não precisa investir muito hoje e nem adquirir novos campos. A geração de caixa este ano deve ser robusta e ela vai distribuir isso em dividendos», comenta Vaz, que espera um DY de 8% para 2024 — bom mais ainda incapaz de substituir a Petrobras.
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Prio (PRIO3)
A Prio trabalha com ativos offshore — em alto-mar- e tem uma produção de 100 mil barris de petróleo por dia.
Embora a Prio (PRIO3) esteja focada no crescimento e costume remunerar seus acionistas com recompras de ações, pode ter caixa livre para pagar proventos no médio prazo. «Se a Prio não encontrar outras alternativas de alocação de capital, como comprar ativos de terceiros ou as recompras atingirem um limite, pode ser que venha a distribuir dividendos, contudo seria um panorama para final deste ano ou começo de 2025», avalia Quaresma.
Poladian lembra que a Prio já deixou claro que só deve distribuir dividendos caso não haja uma oportunidade de fusão ou aquisição. «Ainda é incerto se vai pagar dividendos, mas caso distribua 100% da sua geração de caixa, o dividend yield poderia chegar a 13%», diz.
Já fez muitos investimentos e, agora, deve reduzir sua dívida. «Essa desalavancagem permite uma distribuição de dividendos. Com o petróleo acima de US$ 80 é possível ver um retorno de 4% em proventos, incluindo recompras neste cenário», destaca Hugo Queiroz, da L4 Capital.
3R e Enauta
Em relação a fusão de Enauta e 3R, Queiroz acredita que a nova companhia deve apresentar no médio prazo uma redução dos seus investimentos, gerando mais caixa, desalavancando e provavelmente distribuindo proventos. «No primeiro momento quem pode distribuir é a Prio e mais na frente eles», pontua. A expectativa é de um dividend yield de 5% a partir de 2025, para a nova empresa que surgir fruto da fusão.
Já Vaz tem uma visão diferente e acredita que após fusão de 3R e Enauta o foco será de crescimento e fortes investimentos. «Não devem entregar dividendos nos próximos trimestres», defende.
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Conflito no Oriente Médio
As tensões entre Irã e Israel trouxeram uma certa expectativa de alta nos preços do petróleo internacional. Segundo Alves, da VG, se o dólar e o barril de petróleo se valorizarem, as junior oils seriam as mais beneficiadas, com destaque para Prio e 3R, que estão 100% expostas a exploração e produção da commodity.
Vaz, da Nord, destaca que petróleo em patamar elevado seria positivo para as petroleiras menores, no entanto o impacto pode ser negativo para a Petrobras contribuindo com a defasagem em relação aos preços internacionais da commodity. «A Petrobras acaba dependendo de como o governo vai colocar esse preço ou não nos combustíveis e isso pode impactar os resultados da estatal», avalia.
Regis Chinchila, head de research da Terra Investimentos, partilha a mesma visão sobre a Petrobras, mas tem um ponto de vista diferente em relação as junior oils. «Esse cenário também impacta negativamente as empresas junior oils, devido à necessidade de investimentos e ao aumento dos custos operacionais, resultando em condições mais desfavoráveis, como o encarecimento do crédito», explica.
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